Jorge Silva, 1º ano MD/PhD

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A Associação Americana de Medicina (AMA) conduz, desde 2013, o Consórcio para Aceleração da Mudança na Educação Médica, que conta atualmente com 32 escolas médicas dos Estados Unidos da América. Este consórcio objetiva que estas escolas trabalhem de uma forma sinergística para transformar a educação médica em áreas chave. Dos 6 objetivos englobantes estabelecidos, destaca-se um que, simplesmente, se define como “making technology work for learning”, ou seja, fazer com que o emprego de meios tecnológicos de aprendizagem seja realmente eficaz na mesma.

Há já muitos anos que a implantação de meios tecnológicos na área da Educação tem sido tentada, não só na área médica, mas em todas as áreas do conhecimento. Apesar do enorme sucesso associado à facilitação do acesso à informação, existe ainda uma preocupação em adaptar os meios tecnológicos de modo a que não seja necessária uma aprendizagem morosa do seu uso, levando assim à obstrução do processo educativo em si. Em suma, que a tecnologia melhore, evidentemente, a facilidade na aquisição de conhecimentos.

De entre as principais ideias propostas pela AMA, salienta-se o uso de processos clínicos eletrónicos de pacientes para criar um laboratório de aprendizagem, procedendo-se da seguinte forma: após a recolha de um registo médico eletrónico de um paciente real, este passa por um processo de “desidentificação”, isto é, remover todos os dados pessoais e passíveis de identificar o paciente, e é posteriormente incluído num banco de processos relativos a determinado tema ou patologia. A disponibilidade destes processos facilita a aproximação da aprendizagem à realidade, com a utilização de casos clínicos verdadeiros, e com informação completa, recolhida e escrita no contexto clínico real, assim como permite a marcada expansão do número de casos práticos disponíveis para o treino dos alunos. Esta estratégia está atualmente a ser implementada e utilizada na Escola de Medicina da Universidade do Indiana.

 

Outro dos grandes tópicos cobertos pela AMA relaciona-se com a obtenção, análise e utilização de Big Data, um conceito definido pela mesma como um conjunto agregado de informações importantes para a educação médica que provém de diferentes escolas, dados demográficos e dados de saúde populacional. Este conceito tem sido alvo de estudo pela Universidade de Nova Iorque (Ellaway, 2014), que propõe a sua possível utilização, associada às possibilidades que as tecnologias nos fornecem, das seguintes formas:

  • Personalizar a avaliação da competência em determinado procedimento. Por exemplo, utilizar tecnologia de simulação laboratorial de gestos clínicos, que permita a comparação com uma performance standard realizada por profissionais que recorrem à técnica no seu dia-a-dia clínico;

 

  • Captura de dados longitudinais de uma mesma instituição, com subsequente paralelização com outras instituições, de modo a avaliar determinantes de resultados na avaliação médica;

 

  • Combinar dados de repositórios de informação educativa e clínica, nomeadamente correlacionar resultados clínicos com resultados académicos correspondentes à instituição de formação.

Apesar de alguns destes pontos não estarem ainda perto de serem atingidos, outros já o são, e é importante estabelecer desde cedo os objetivos máximos de modo a modular o rumo da evolução tecnológica aplicada à educação. É o recurso a softwares complexos de análise de dados que permitem a integração e simplificação de todos estes dados, com a meta de melhorar a qualidade dos cuidados médicos.

Apesar de haver ainda outras iniciativas para a aplicação de meios tecnológicos à educação médica, nomeadamente em campos como a simulação de pacientes e patologias, ou instrumentos de avaliação automáticos, este ramo do projeto da AMA serve como um excelente exemplo dos grandes obstáculos que este campo enfrenta, mas também dos grandes contributos que poderão ser obtidos.